Considerada um dos aspectos econômicos mais importantes para o agronegócio, a taxa de câmbio é fundamental para determinar não só o custo dos produtos brasileiros comercializados no exterior, mas os preços de itens essenciais para todas as etapas da produção agrícola, como insumos, fertilizantes, defensivos e maquinários importados. É justamente por isso que a variação no preço do dólar afeta, positiva ou negativamente, o cotidiano do produtor brasileiro.
A questão envolvendo a taxa de câmbio, contudo, não é tão simples a ponto de a valorização do real significar apenas vantagens ao produtor e a valorização do dólar representar apenas desvantagens. Isso porque quando há uma alta no dólar, o momento pode se tornar favorável aos exportadores em curto prazo, já que a valorização da moeda norte-americana pode elevar os valores das commodities e, consequentemente, o lucro dos produtores.
Esse momento é oportuno para as commodities (produtos elaborados em larga escala com características uniformes e preços definidos conforme a procura e oferta desses itens) com elevada demanda mundial, como a soja, o milho e as carnes, e as que têm preços definidos a partir das bolsas internacionais, como o café, o açúcar e o algodão.
Por outro lado, em médio e longo prazo, a alta do dólar (especialmente se ocorrer constantemente) causa impactos diretos nos preços de produtos como insumos e fertilizantes, o que encarece todas as etapas da produção e, evidentemente, o preço final do produto.
No caso de produtores que não exportam seu produto, o prejuízo fica ainda mais evidente, afinal, ele terá de arcar com muitas das suas despesas em dólar, mas fará suas vendas em real.
Imagem:
Agência Brasil
Cenário atual
Após diversos aumentos consecutivos registrados ao longo do ano passado e no início de 2022 (em março de 2021 chegou a R$ 5,53), o dólar tem caído nos últimos dias, chegando a operar abaixo dos R$ 5 (despencou, inclusive, para R$ 4,74 nos últimos dias de março de 2022). A queda é impulsionada, sobretudo, pelo conflito entre Rússia e Ucrânia, que provocou uma instabilidade no mercado internacional, com alta das commodities, especialmente o petróleo e matérias-primas agrícolas, como a soja e o milho.
Se por um lado isso diminui alguns custos do produtor, por outro o lucro daqueles que exportam também sofreu redução. Em outro contexto, esse seria o momento ideal para comprar insumos e fertilizantes, pois o dólar está menos valorizado e, por isso, o produtor brasileiro poderia economizar.
No entanto, o mesmo conflito que tem contribuído com a desvalorização da moeda norte-americana, tem gerado outras incertezas. A maior delas se refere à produção mundial de insumos e fertilizantes, pois tanto a Rússia quanto a Ucrânia ocupam papéis de destaque nesses setores.
Justamente por isso, o produtor rural enfrenta nesse momento uma situação atípica, que exige planejamento, pesquisa e bastante conhecimento técnico para lidar com um problema global, capaz de transformar, ao menos pelos próximos meses, a realidade do agro.
Fonte: Dados da AEUSCO (adaptado por Farmnews)
Contratos
Outro aspecto bastante influenciado pelo preço do dólar são os contratos feitos entre exportadores e clientes. Um produtor brasileiro pode, por exemplo, firmar um acordo com um cliente de outro país e se comprometer a vender determinada quantidade de um produto a uma quantia específica em dólar.
Com a variação da moeda, esse acordo, até então lucrativo, pode se tornar um problema. É por isso que especialistas das áreas econômica e jurídica orientam os produtores para que estabeleçam certas cláusulas em seus contratos, para que assim tenham uma proteção legal caso o preço do dólar caia e, dessa forma, evitem prejuízos.
Conclusão
A taxa de câmbio desempenha um papel muito importante no agronegócio, especialmente por conta dos produtos comercializados em dólar (como fertilizantes, insumos e máquinas agrícolas importadas) e a variação de preços das commodities no mercado financeira, sobretudo na bolsa de valores de Chicago, nos Estados Unidos.
Quando em alta, a moeda norte-americana pode proporcionar excelentes oportunidades aos produtores, sobretudo em curto prazo. Já a baixa do dólar tende a facilitar o cotidiano do produtor em diversos momentos, especialmente na compra de produtos necessários para a produção.
Há de se lembrar que o dólar muito valorizado prejudica, em especial, os produtores que não exportam, pois estes vendem em real e, ao mesmo tempo, têm muitas despesas pagas em dólar.
Diante desse cenário, é de grande importância que o produtor se atente à taxa de câmbio e acompanhe diariamente o preço do dólar, pois isso é determinante para saber o melhor momento de comprar, investir e vender.
Essa questão, aliás, deve ser levada em conta em qualquer planejamento financeiro, seja de curto, médio ou longo prazo. É claro que os planejamentos eficientes precisam ser parte do cotidiano do produtor em qualquer momento, porém, diante de todas essas adversidades, isso se faz ainda mais necessário agora.
É essencial que se pense a partir dos níveis tático e operacional para estabelecer metas e formas concretas de alcançá-las. O agro brasileiro, um dos mais importantes do mundo, tem todas as condições necessárias para passar por esse momento e ficar ainda mais forte a partir dos desafios, enfrentados, tradicionalmente, com muito trabalho e criatividade.
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Mayara Gomes
ago 1, 2022
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