A resistência de plantas daninhas a herbicidas é um dos maiores desafios da agricultura atual. Venha entender um pouco mais sobre o assunto e melhorar o seu manejo.
Grandes perdas ocorrem durante o desenvolvimento da cultura no campo. Um dos fatores que mais afeta o rendimento e a produtividade é a presença de plantas daninhas que podem ocasionar efeitos diretos e indiretos na cultura principal. As estimativas mostram perdas de 36%, podendo, em alguns casos, ultrapassar 80% quando não são controladas.
Existem diferentes métodos de controle, mas o químico, utilizando herbicidas, é o mais amplamente utilizado. Ele possui maior praticidade, economia e eficiência, quando comparado a outros métodos. Entretanto, quando usado de maneira incorreta, causa desequilíbrios e provoca a evolução de muitos dos casos de resistência a esses compostos pelas plantas daninhas.
Isso compromete as altas produtividades, aumenta os custos de produção e inviabiliza a utilização de determinados herbicidas.
Para melhor entender o conceito, é legal separar o que é a resistência e o que é a tolerância:
Dessa maneira, quando uma planta daninha é tolerante a determinado herbicida, qualquer indivíduo dessa espécie, seja onde for, também será tolerante ao produto. Já quando ela é resistente, um ou mais grupos de plantas, em um ou vários locais, apresentam indivíduos que não morrem e continuam se reproduzindo normalmente após a exposição ao herbicida, enquanto outros grupos de plantas da mesma espécie morrem em contato com o produto.
O mecanismo de ação de um herbicida é o local primário onde ele atua, ou seja, o primeiro passo bioquímico e biofísico no interior celular a ser inibido pela atividade do herbicida.
A resistência de plantas daninhas a herbicidas pode ser dividida em três formas:
É importante frisar que a resistência não é gerada pela aplicação do herbicida. Os herbicidas apenas selecionam os indivíduos que sofreram mutação durante a duplicação do material genético (DNA). Assim, o surgimento de plantas daninhas resistentes está sempre associado às mudanças genéticas.
Quando uma dessas mutações ocorre em um gene que está envolvido na ação de determinado herbicida, esse herbicida passa a ser ineficiente nessas plantas, ocasionando então a resistência. Por ser uma característica herdável, quando esse mesmo herbicida é utilizado de forma repetida, por vários ciclos, a mutação continuará acontecendo, aumentando a frequência, até que na área só restem plantas resistentes.
O primeiro caso de resistência de plantas daninhas a herbicidas ocorreu em 1957. Biótipos de trapoeraba (Commelina diffusa) e cenoura-selvagem (Daucus carota), respectivamente nos Estados Unidos e no Canadá, foram identificados.
No Brasil os primeiros casos foram relatados em 1993, com a espécie Euphorbia heterophylla e Bidens pilosa resistentes a inibidores da ALS. Atualmente já são reconhecidas 28 espécies resistentes a diferentes herbicidas registrados para uso no país.
É preciso se atentar a casos como a buva, que no Paraná, foi identificado biótipos resistentes a inibidores da ALS, da EPSPs e com resistência múltipla a inibidores da EPSP e ALS. Isso se torna grave pois deixa o produtor sem dois modos de ação de herbicidas para serem utilizados no manejo dessa espécie.
Abaixo temos o histórico dos relatos da ocorrência de plantas daninhas resistentes a herbicidas no Brasil.
Ano | Nome Científico | Nome Comum | Mecanismos de Ação |
1993 | Bidens pilosa | Picão-Preto | Inibidor da ALS |
1993 | Euphorbia heterophylla | Leiteiro | Inibidor da ALS |
1996 | Bidens subalternans | Picão-Preto | Inibidor da ALS |
1997 | Urochloa plantaginea | Papuã | Inibidor da ACCase |
1999 | Sagittaria montevidensis | Sagitária | Inibidor da ALS |
1999 | Echinochloa crus-pavonis | Capim-arroz | Mimetizador de auxina |
1999 | Echinochloa crus-galli | Capim-arroz | Mimetizador de auxina |
2000 | Cyperus difformis | Junquinho | Inibidor da ALS |
2001 | Fimbristylis miliacea | Cuminho | Inibidor da ALS |
2001 | Raphanus sativus | Nabo | Inibidor da ALS |
2002 | Digitaria ciliaris | Milhã | Inibidor da ACCase |
2003 | Lolium multiflorum | Azevém | Inibidor da EPSPs |
2003 | Eleusine indica | Capim pé-de-galinha | Inibidor da ACCase |
2004 | Euphorbia heterophylla | Leiteiro | Inibidor da ALS + Protox |
2004 | Parthenium hysterophorus | Losna-branca | Inibidor da ALS |
2005 | Conyza bonariensis | Buva | Inibidor da EPSPs |
2005 | Conyza canadensis | Buva | Inibidor da EPSPs |
2006 | Oryza sativa | Arroz-vermelho | Inibidor da ALS |
2006 | Bidens subalternans | Picão-Preto | Inibidor da ALS + PSII |
2008 | Digitaria insularis | Capim-amargoso | Inibidor da EPSPs |
2009 | Echinochloa crus-galli | Capim-arroz | Inibidor da ALS + Mimetizador auxina |
2009 | Sagittaria montevidensis | Sagitária | Inibidor da ALS + PSII |
2010 | Lolium multiflorum | Azevém | Inibidor da ALS |
2010 | Lolium multiflorum | Azevém | Inibidor da ACCase + EPSPs |
2010 | Conyza sumatrensis | Buva | Inibidor da EPSPs |
2010 | Avena fatua | Aveia-selvagem | Inibidor da ACCase |
2011 | Conyza sumatrensis | Buva | Inibidor da ALS |
2011 | Conyza sumatrensis | Buva | Inibidor da ALS + EPSPs |
2011 | Amaranthus retroflexus | Caruru-gigante | Inibidor da ALS + PSII |
2011 | Amaranthus viridis | Caruru-de-mancha | Inibidor da ALS + PSII |
2012 | Amaranthus retroflexus | Caruru-gigante | Inibidor da ALS |
2013 | Raphanus raphanistrum | Nabiça | Inibidor da ALS |
2013 | Ageratum conyzoides | Mentrasto | Inibidor da ALS |
2014 | Chloris elata | Capim-branco | Inibidor da EPSPs |
2014 | Amaranthus retroflexus | Caruru-gigante | Inibidor Protox |
2014 | Cyperus iria | Tiririca-do-brejo | Inibidor da ALS |
2015 | Amaranthus palmeri | Caruru palmeri | Inibidor da EPSPs |
2015 | Echium plantagineum | Borragem | Inibidor da ALS |
2015 | Echinochloa crus-galli | Capim-arroz | Inibidor da ACCase + ALS + PSII |
2016 | Eleusine indica | Capim pé-de-galinha | Inibidor da EPSPs |
2016 | Conyza sumatrensis | Buva | Inibidor do PSI |
2016 | Amaranthus palmeri | Caruru palmeri | Inibidor da EPSPs + ALS |
2016 | Digitaria insularis | Capim-amargoso | Inibidor da ACCase |
2016 | Bidens pilosa | Picão-Preto | Inibidor da ALS + PSII |
2016 | Lolium multiflorum | Azevém | Inibidor da ACCase + ALS |
2017 | Eleusine indica | Capim pé-de-galinha | Inibidor da ACCase + EPSPs |
2017 | Lolium multiflorum | Azevém | Inibidor da EPSPs + ALS |
2017 | Conyza sumatrensis | Buva | Inibidor Protox |
2018 | Conyza sumatrensis | Buva | Inibidor da ALS + PSI + EPSPs |
2019 | Conyza sumatrensis | Buva | Inibidor da PSI + PSII + Protox + EPSPs + Mimetizador auxina |
O Brasil ocupa a quinta posição no ranking de países com maior número de casos de resistência a herbicidas, atrás apenas dos Estados Unidos, Austrália, Canadá e França. E os relatos de produtores só aumentam a cada ano, em várias produções já é percebido resistência de daninhas.
As plantas daninhas possuem mecanismos de resistência aos herbicidas. Eles podem ser divididos em Relacionados ao Local de Ação (RELA) e Não Relacionados ao Local de Ação (N-RELA), podendo ocorrer mais de um mecanismo em uma mesma planta.
RELA – Relacionados ao Local de Ação:
N-RELA – Não Relacionados ao Local de Ação:
O primeiro indicador de um caso de resistência na lavoura é a permanência de plantas vivas após a aplicação do produto. Diante disso é preciso descartar uma má aplicação, se o controle não foi eficaz para só uma espécie e se as plantas vivas não são consequência de reifestações. Se a aplicação foi correta, apenas uma espécie não foi controlada e as plantas vivas não forem reinfestações, é possível que seja uma planta daninha resistente.
Agora é necessário avaliar o histórico, perguntar ao produtor quais herbicidas ele tem utilizado e verificar se não é o mesmo frequentemente. Se percebeu uma diminuição gradativa da eficiência no controle daquela espécie. Se ambas as observações forem afirmativas, é importante buscar na literatura se já houve casos para determinada planta e herbicida. Se existirem casos, então, provavelmente é um caso de resistência.
Nesse caso é necessária a confirmação da resistência com testes de dose-resposta. Quanto antes for constatado, mais rápido são os estudos e a resposta para um novo manejo.
O manejo para prevenir ou retardar o aparecimento de plantas daninhas deve ser planejado com antecedência, buscando diferentes medidas de controle. São recomendadas:
As plantas daninhas influenciam na produtividade, causando danos diretos e indiretos na cultura principal, influenciando também nos custos de produção.
A resistência de plantas daninhas aos herbicidas precisa ser reconhecida como um dos grandes problemas da agricultura moderna no Brasil e no mundo.
Entender os mecanismos de resistência é imprescindível para o manejo adequado e para prevenir o aumento no número de casos de resistência, e o FieldScan é a plataforma ideal para auxiliar nas tomadas de decisão em campo!
Saiba como melhorar a eficiência no controle de plantas daninhas neste outro artigo do nosso blog!
KARAM, D.; SILVA, A. F. da; GAZZIERO, D. L. P.; ADEGAS, F. S.; VARGAS, L. Situação atual da resistência de plantas daninhas a herbicidas no sistema agrícola. Embrapa Milho e Sorgo-Capítulo em livro científico (ALICE), 2018.
CARVALHO, L. B. Herbicidas. Lages, SC, 2013 vi, 62 p.